Por Pedro Borg e Suzi Katzumata, Valor — São Paulo
13/10/2022 17h52 Atualizado há 11 horas
O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez nesta quinta-feira (13) uma avaliação pessimista do cenário para a América Latina no próximo ano, que é similar ao dos demais emergentes, com significativa desaceleração do crescimento em meio a inflação elevada e alta global de juros.
A escalada no custo do financiamento global será um terceiro choque — depois da pandemia e da guerra na Ucrânia — que desacelerará o crescimento econômico da América Latina para 1,7% no próximo ano, disse Ilan Goldfajn, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI. A taxa revisada ficou bem abaixo dos 2,5% estimados em abril e do crescimento previsto para os emergentes da Ásia, Oriente Médio e África subsaariana.
Até agora, alta dos preços das commodities e o impulso proporcionado pela recuperação da atividade do setor de serviços e do emprego para os níveis pré-pandemia e retomada do turismo ajudaram a região a compensar os efeitos do aperto monetário iniciado em março pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
Dessa forma, as economias da América Latina e Caribe estão bem posicionada para ter um bom desempenho neste ano, segundo Goldfajn. O FMI elevou sua projeção de crescimento para a região neste ano de 3% para 3,5%.
Mas a perspectiva para a região está se deteriorando, com os bancos centrais das principais economias elevando os juros para domar a inflação. Isso está desacelerando o fluxo de capital para os países emergentes, que por sua vez também sobem o juro para combater a inflação doméstica e também para atrair o investidor externo que está mais avesso ao risco.
Em entrevista ao “Financial Times”, Goldfajn destacou que um aumento na turbulência global poderá levar os investidores a preferirem a segurança dos ativos como o dólar e bônus dos EUA.
“Os aumentos nos juros domésticos vão afetar a oferta de crédito e investimentos, fazendo com que a região cresça menos do que o esperado”, disse Goldfajn. “As exportações de commodities vão diminuir, resultando na queda de preços destes produtos. Países dependentes do turismo continuarão sua recuperação em 2023, mas em ritmo menor do que o esperado”.
O FMI vê a região muito integrada com o sistema financeiro global, algo que terá impactos negativos em 2023 com a desaceleração de grandes economias como EUA, China e União Europa. “Isso vai impactar os preços das commodities, as remessas [de expatriados] e o turismo pode desaquecer. Esses fatores podem levar a um crescimento baixo”, disse o diretor do FMI.
Diante do cenário desafiador, Goldfajn ressaltou a necessidade de uma atuação forte da política fiscal e monetária dos países da região e exaltou a atuação de alguns bancos centrais, que segundo ele, conseguiram se adiantar ao processo de aperto monetário internacional e com isso conseguiram se blindar da alta do dólar.
Porém, o FMI alerta que os BCs latino-americanos devem tomar cuidado para não cortar as taxas de juros cedo demais, uma vez que a pressão inflacionária permanecerá elevada por algum tempo.
Em artigo publicado no Blog do FMI, Goldfajn junto com os economistas Santiago Acosta Ormaechea, Gustavo Adler e Anna Ivanova, observaram que a pressão de preços se ampliou para além de alimentos e energia. Este é o caso no Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, onde a inflação alcançou a máxima de 10% recentemente. “A pressão de preços para esses cinco países alcançará em torno de 7,8% no fim do ano e permanecerá elevada em cerca de 4,9% — ainda acima do teto de tolerância dos BCs — até o fim do próximo ano.”
Brasil
Questionado sobre as perspectivas do Brasil e como o cenário eleitoral pode impactar a economia do país, Goldfajn se limitou a dizer que assim como o resto da região, a economia brasileira está sujeita a desaceleração em 2023 causada pela queda de crescimento de grandes economias mundiais.
O FMI cortou sua previsão de crescimento para o Brasil em 2023 para apenas 1%, abaixo dos 2,8% estimados para este ano.
Fonte: Valor Econômico

