Depois de ajustar o discurso para recompor a credibilidade com a proximidade da transição no Banco Central (BC), o Comitê de Política Monetária (Copom) deve caminhar para aumentar a Selic já a partir da próxima reunião, segundo três gestores de assets de referência no setor: André Raduan, da Genoa Capital; Bruno Serra Fernandes, da ItaúCotação de Itaú Asset; e Luiz Parreiras, da Verde Asset.
Ao participarem de evento da Warren Investimentos, os comentários foram na linha de que desde as falas do diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, na semana passada, incluindo a do evento desta segunda, os ativos domésticos reagiram à leitura de quem quer que assuma o comando do BC, no lugar de Roberto Campos Neto em 2025, vai seguir o script de preservar a meta de inflação — mesmo que às custas de juros mais altos.
Como os últimos dados do IPCA projetam uma taxa superior já para o ano que vem, o colegiado não deve ter alternativa a não ser confirmar na ação o discurso da austeridade.
O desemprego, sob várias métricas, está abaixo do esperado, afetando salários e renda, a atividade tem se mostrado mais forte, e o próprio modelo do BC aponta para uma inflação acima da meta, disse Raduan. “A discussão é meio tranquila de que vai ter que subir os juros, acho que é a decisão correta para ancorar as expectativas e diminuir o prêmio de risco”, comentou. “Aí as chances para o ano que vem são de cortes maiores.”
Se o câmbio estivesse num intervalo entre R$ 4,90 e R$ 5,00, o BC poderia manter a Selic nos atuais 10,5% ao ano por mais tempo. Mas, com a economia pujante, o desemprego nas mínimas, após forte impulso fiscal no ano passado e neste, se a inflação começar a rodar acima da meta, isso vai jogar as expectativas para cima, segundo Parreiras.
“O câmbio desestabiliza uma figura que já era complexa, talvez vá demandar uma postura mais dura do BC. [O dólar] Saiu de R$ 5 no fim de 2023 para R$ 5,70 recentemente, é quase inexorável e com certeza impactou as expectativas de maneira forte”, afirmou Parreiras. “Dificilmente não vai ter uma alta para tomar de volta o controle [inflacionário].”
Serra, ex-diretor de política monetária do BC, disse que vinha pesando a percepção dos investidores em relação ao futuro do BC, porque havia desconfiança de que haveria algum constrangimento para exercer o seu papel institucional. “Os BCs sobem juros quando precisam e caem quando podem, não existe equilíbrio da moeda se há qualquer limitação nesse processo.” Como a válvula da incerteza foi a depreciação cambial, houve alta das expectativas inflacionárias. “O câmbio provavelmente estaria muito mais perto de R$ 5 do que de R$ 6 se a gente não tivesse passado por essa dúvida. O fato é que essa dúvida vai ser aos poucos esclarecida, no seu tempo.”
Quando o mercado interpretou que o BC será o mesmo de sempre, rapidamente as taxas longas recuaram. Essa postura foi lida que o próximo passo vai ser subir os juros pelo cenário mais desafiador, afirmou Serra.
Mesmo com a descompressão dos últimos dias, ele não acha que vá tirar o Copom da rota de alta de juros. Parafraseando Galípolo, que falou no painel anterior, ele disse que o BC não pode comemorar o fato de a atividade econômica estar mais forte, tem que prestar atenção “e tirar a bebida da sala quando os adolescentes passam do limite”.
Parreiras acrescentou que até a bolsa se valorizou por causa da queda dos juros longos, refletindo-se “num ganho de credibilidade quase instantâneo”. O prêmio de risco medido pelo CDS também recuou. “Entre estar num ciclo vicioso e virtuoso parece meio simples, uma coisa mágica da credibilidade. O mercado age rápido quando vira a chave.”
Enquanto no Brasil o BC deve caminhar para uma alta de juros, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) tende a iniciar seu ciclo de reduções. Serra acredita que o Fed, de Jerome Powell, não deveria fazer uma redução rápida das suas taxas de referência, precisa ser cuidadoso, não advogar pelo corte acelerado, “deixando o mercado precificar um ciclo mais longo, ele colhe um efeito mais benigno”. Ele acrescentou que nos Estados Unidos, o efeito da política monetária na atividade é mais rápido, não tem a mesma defasagem que se observa no Brasil.
Raduan afirmou que a Genoa não trabalha com uma alta probabilidade de recessão porque tanto a população quanto as empresas americanas estão desalavancadas.
Parreiras, da Verde, comentou, contudo, que historicamente o desemprego nos EUA não sobe devagar, a taxa não é linear e esse é o maior risco. “A economia é tão pujante que é difícil olhar as condicionantes micro, é mais atitudinal, é difícil modelar quando acontece o desemprego.”
O gestor acha muito provável o Fed fazer até três reduções de juros até 2025. “Na minha cabeça, eventualmente pode ser mais rápido.” O argumento para que venha uma primeira redução de 0,50 ponto percentual é que o Fed considerou fazer um corte em julho que não levou adiante, considerou.”
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