Por Roberto Lameirinhas — De São Paulo
19/04/2022 05h00 Atualizado 19/04/2022
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O crescimento recorde da dívida privada deve retardar a recuperação econômica, mas o grau de atraso da retomada vai variar entre os países e dentro deles, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa variação terá impactos nas medidas de aperto ou alívio fiscal e, consequentemente, nas taxas de crescimento econômico desses países.
Em seu relatório “Dívida do setor privado e a recuperação global”, divulgado ontem, o FMI avalia que as ações dos governos diminuíram o sofrimento econômico da pandemia de covid-19, fornecendo liquidez para consumidores e empresas por meio de garantias de crédito, empréstimos subsidiados e moratórias no pagamento de juros. Mas essas medidas também elevaram o endividamento privado, ampliando a alavancagem iniciada pelas condições de juros ultrabaixos a partir da crise financeira global de 2008.
A dívida privada global aumentou para 13% do produto interno bruto mundial em 2020 – mais do que durante a crise financeira de 2008. Para os analistas do FMI, tal alavancagem pode reduzir a recuperação econômica em 0,9% do PIB nas economias mais ricas e em 1,3% nos países emergentes, em média, nos próximos três anos.
“Durante a pandemia, em particular em sua fase mais aguda, as políticas de estímulo governamentais ajudaram a manter acesso ao crédito, evitando que a recessão fosse ainda mais profunda em 2020”, afirma o documento. “Com os países se preparando agora para normalizar sua política monetária, avaliar como essa alavancagem está distribuída é fundamental para prever o ritmo da recuperação e calibrar a retirada dos estímulos dados durante a pandemia”, alerta o estudo.
O impacto da pandemia nas finanças das famílias e empresas variou não só entre os países como também no âmbito doméstico deles, observou o FMI, ressaltando a complexidade do monitoramento a ser realizado. “As diferenças entre os países são grandes, com importantes implicações para o crescimento futuro”, assinala o documento.
À medida que as economias iniciam uma retomada e a inflação se acelera, os governos precisam levar em conta o impacto do aperto fiscal e monetário sobre consumidores e empresas para ajustar o ritmo de retirada das políticas de apoio extraordinárias.
Segundo o FMI, os setores não financeiros mais alavancados durante a emergência da pandemia foram os de semicondutores, software e serviços de tecnologia de informação (TI), farmacêutico e de biotecnogia e de equipamentos de saúde.
“As análises mostram que a recuperação deve ser mais lenta em países onde a alavancagem está concentrada em empresas vulneráveis e famílias de baixa renda, o espaço fiscal é limitado, os processos de insolvência são ineficazes e a política monetária precisa ser apertada mais rápido”, diz o FMI.
Para evitar que o aperto rápido da política monetária cause rupturas grandes e potencialmente duradouras, os governos devem estar atentos a consequências adversas no setor financeiro.
Essa atenção é especialmente importante em países nos quais uma onda de falências em setores fortemente atingidos pela pandemia podem se espalhar para o restante da economia.
Para evitar essas consequências, o Fundo recomenda que os países incentivem a reestruturação em vez da liquidação e, se necessário, estendam o apoio à solvência. Mecanismos de reestruturação serão necessários para promover a rápida realocação de capital e trabalho para empresas mais produtivas.
O Fundo considera fundamental, para calibrar o ritmo de retirada das medidas de estímulo, o monitoramento cuidadoso dos balanços das famílias de baixa renda e de empresas vulneráveis.
“Para estimar o impacto da recessão da covid-19 no endividamento das famílias, é preciso acompanhar, além de dados macroeconômicas, variáveis como renda e dívida”, diz o estudo. “Dados regionais e setoriais como salários, emprego, desemprego, preços da habitação e empréstimos bancários devem ser são usados para estimar as mudanças no padrão de endividamento”, conclui.
Fonte: Valor Econômico

