.4 Nov 2022 LAURIBERTO POMPEU • COLABOROU ANDRÉ BORGES
O primeiro encontro da equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com integrantes do atual governo foi marcado pela cordialidade, apesar do tumulto dos últimos dias, provocado por eleitores que não aceitaram a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) e interditaram estradas. Após a reunião com ministros, no Palácio do Planalto, Bolsonaro chamou Geraldo Alckmin, futuro vicepresidente, a seu gabinete e o cumprimentou rapidamente.
“Nossa tarefa é unir o Brasil, trabalhar e ter uma agenda de propostas. É melhorar a vida da população e bola para frente”, disse Alckmin, escolhido por Lula para coordenar a equipe que buscará informações sobre o governo Bolsonaro. “A transição começou, pautada na transparência e no interesse público. Agora, é fazer da melhor maneira possível.”
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, recebeu Alckmin e também o presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, além da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Todos repararam que Ciro Nogueira estava com uma gravata vermelha, a cor do partido. O general Luiz Eduardo Ramos, titular da Secretaria-Geral da Presidência, participou do encontro, que durou meia hora.
Foi a primeira vez que Mercadante e Gleisi retornaram à sede do Executivo desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. “Só tem uma forma de voltar ao Planalto e exercer um cargo público: é pela porta da frente, com voto popular e eleição limpa, como a que vivemos”, afirmou Mercadante. Tanto ele quanto Gleisi foram titulares da Casa Civil sob Dilma.
Ex-tucano, Alckmin foi escolhido para chefiar a transição por ser um político de centro. A ideia de Lula é mostrar que pretende fazer um movimento além do PT para governar. Mercadante ficará com a parte técnica dos trabalhos e Gleisi cuidará das conversas com os partidos.
No dia em que integrantes da transição estiveram no Planalto, a foto do ex-presidente Michel Temer, chamado de “golpista” pelo PT, foi ao chão. A queda ocorreu na hora da entrevista de Alckmin, quando um cinegrafista esbarrou na imagem em meio ao empurraempurra. Mesmo com o vidro trincado, porém, a foto em preto e branco acabou reacomodada às pressas na Galeria dos Presidentes, no saguão principal (mais informações na pág. A8).
ORÇAMENTO. A equipe de transição será instalada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a partir de segundafeira. Lula está na Bahia e terá reuniões em Brasília na terça, quando tratará do Orçamento da União. Na manhã de ontem, antes do encontro no Planalto, Alckmin, Mercadante e Gleisi se reuniram com o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do Orçamento. As negociações envolvem uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir ao novo governo uma licença para gastar, em 2023, sob o argumento de que somente assim será possível pagar programas sociais como o Auxílio Brasil de R$ 600, a ser rebatizado de Bolsa Família. O acordo tem o aval do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PPAL), expoente do Centrão.
A estratégia provocou reclamações do senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de Lula e adversário de Lira. “Recorrer ao Centrão é uma barbeiragem, um erro político”, disse Renan ao Estadão. “O Centrão não cabe no teto porque é o próprio fura-teto”.
O MDB e o PDT, entre outros partidos da aliança que elegeu Lula, também indicarão nomes para compor a equipe de transição. O grupo poderá ter até 50 pessoas, com salários que vão de R$ 2.701,46 a R$ 17.327,65.
TCU. O presidente em exercício do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Bruno Dantas, também esteve ontem com Alckmin, Gleisi e Mercadante. O TCU vai supervisionar o processo de transição, que será relatado pelo ministro Antonio Anastasia.
Caso haja dificuldades na obtenção de informações, a equipe de Lula poderá reclamar ao TCU. Dessa forma, o tribunal atuará para assegurar que a lei sobre as regras da transição de governo seja cumprida.
Fonte: O Estado de S. Paulo

