A Eletronuclear e a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) vão assinar nesta quinta-feira (28) um memorando de entendimentos (MoU, na sigla em inglês) para estudar a produção de radiofármacos na usina nuclear de Angra 2. Um radiofármaco é um medicamento que se utiliza de tecnologia nuclear em tratamentos de saúde.
O acordo, que será assinado na sede da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacionais (Enbpar), envolve estudos que devem durar até cinco anos para desenvolver nas instalações da usina nuclear a produção de matéria-prima (radioisótopos) para medicamentos voltados para o tratamento de câncer de próstata, um dos mais comuns em homens acima de 50 anos no país.
A ideia é que sejam avaliadas adaptações no reator nuclear de Angra 2 para que se possa promover a transformação da substância química itérbio-176 em lutércio-177.
É o lutércio o elemento do qual se produz o rádiofármaco utilizado para tratamentos de alguns tipos de câncer, entre os quais o de próstata, entre outras doenças.
A adaptação em Angra 2 abre espaço para que seja feita em Angra 3, caso a usina tenha sinal verde para que as obras sejam retomadas.
“Vamos tracionar isso de maneira rápida, já a partir de 2025, para ver se a gente consegue utilizar o reator de Angra 2 e já deixando pronta a mesma tecnologia para o reator nuclear de Angra 3”, disse o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo Leite.
O Brasil importa pelo menos 70% do radiofármaco para câncer de próstata e uma dose do medicamento com lutércio custa cerca de R$ 30 mil. Existem planos de construção de um reator nuclear de porte pequeno (reator multipropósito), muito menor do que se utiliza para a geração de energia nuclear, que seria voltado para a produção dessas substâncias, entre outros objetivos. No entanto, ainda não há previsão de quando o reator estaria disponível no país.
Uma forma de acelerar o aumento da produção de radiofármacos no país é a adaptação dos reatores nucleares das usinas para produzir os insumos, o que reduziria custos de produção – por consequência, o preço para o consumidor final ou para o Tesouro, no caso de fornecimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“É uma forma de tornar mais barato o medicamento na rede particular e fazer com que o dinheiro do contribuinte seja mais bem utilizado, sem depender da importação de radiofármacos”, afirmou Lycurgo.
Angra 2 possui 1.350 megawatts (MW) de capacidade instalada e conta com reator de água pressurizada.
Em linhas gerais, a técnica envolve a inserção de esferas que contém o itérbio 176 no interior do reator, conhecido no meio como medição de fluxo de nêutrons. Segundo a Eletronuclear, os ajustes a serem feitos no reator não comprometeriam a operação da usina nem gerariam resíduos relevantes de longa duração.
As esferas são expostas ao combustível nuclear por alguns segundos, até que seja promovida a reação físico-química que resulta no lutércio-177.
Assim, o lutércio é transportado para o laboratório para ser processado, gerando o radiofármaco utilizado nos tratamentos.
Além dos altos custos, um desafio para o Brasil na importação do insumo é o transporte do país de origem até o destino final, pois o tempo de radioatividade dura algumas horas. Os principais exportadores do lutércio são o Canadá e a Rússia.
A tecnologia já foi testada e está sendo implantada em usinas nucleares na Romênia e no Canadá.
Na medicina, um exemplo clássico de rádioisótopo é o iodo, que é utilizado em contrastes para exames de ressonância magnética.
* O repórter viajou a convite da Eletronuclear
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Fonte: Valor Econômico