As ações da Kenvue, fabricante do Tylenol, se recuperaram nesta terça-feira (23), após despencarem para uma mínima histórica na véspera, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ligou o uso do analgésico durante a gravidez ao autismo em crianças.
As alegações do presidente, feitas ao lado do secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., foram rebatidas por importantes associações médicas e confrontam o histórico jurídico favorável da Kenvue sobre o assunto.
Na coletiva de segunda-feira (22), Trump pediu às mulheres grávidas que não usassem o medicamento, culpando-o pelo aumento das taxas de autismo no país. O anúncio fez as ações da Kenvue caírem 7,5%, tornando-a a empresa de pior desempenho no índice S&P 500 no dia. No entanto, os papéis se recuperaram e subiram 6% na Bolsa de Nova York (Nyse) ontem.
O Tylenol representa cerca de 10% da receita da Kenvue, e as alegações, embora contestadas, criam o risco de uma queda nas vendas e de uma nova onda de processos judiciais.
A comunidade médica reagiu fortemente. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) classificou a sugestão como “irresponsável” e “não apoiada pelo corpo completo de evidências científicas”. O presidente da ACOG, Steven J. Fleischman, alertou que a mensagem é “prejudicial e confusa” para gestantes que precisam do paracetamol (princípio ativo do Tylenol) para tratar condições sérias como febre materna ou pré-eclâmpsia. Ele afirmou que, após décadas de pesquisa, “nenhum estudo respeitável concluiu com sucesso” que o uso do medicamento na gravidez “causa distúrbios do neurodesenvolvimento em crianças”.
A Kenvue, que foi desmembrada da Johnson & Johnson em 2023, já enfrentou inúmeros processos sobre o tema. O ponto crucial é que um juiz federal decidiu a favor da Kenvue duas vezes, em dezembro de 2023 e julho de 2024, citando falhas nas metodologias. Em agosto de 2024, outro juiz rejeitou todos os casos apresentados em tribunal federal, “encerrando efetivamente o litígio”.
Analistas do BNP Paribas afirmaram que a reação do papel era excessiva, dadas as vitórias legais anteriores da Kenvue. A analista Navann Ty destacou que as vendas de Tylenol não foram impactadas durante processos judiciais passados e a marca continuou a ganhar participação de mercado, não esperando que o anúncio afetasse vendas ou reabrisse litígios.
Fonte: Valor Econômico