A Vanguard deu aos investidores de alguns de seus fundos a opção de votar em assuntos de interesse das empresas investidas no ano passado, como parte de um esforço inédito para permitir aos cotistas se manifestarem sobre a governança das maiores empresas dos Estados Unidos. Quase metade dos cotistas, no entanto, optou por deixar a própria Vanguard fazer isso por eles.
Cerca de 45% dos acionistas via fundos escolheram deixar a gestora de recursos, que soma US$ 9,7 trilhões, votar por eles.
A mudança ocorre enquanto os maiores provedores de investimentos passivos, como ETFs (fundos negociados em bolsa), lidam com a pressão política da esquerda e da direita por exercer o voto que têm sobre as empresas dos EUA. Os críticos alegam que as gestoras de fundos passivos têm muito poder porque controlam de 15% a 20% das ações em muitas das empresas listadas.
À medida que a retaliação às iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) dos investidores se intensificou, os gestores de recursos se apressaram para encontrar maneiras de transferir a responsabilidade pela votação diretamente para aos acionistas individuais em seus fundos, em nome dos quais eles votavam anteriormente.
A BlackRock e a State Street também lançaram recentemente programas para permitir que alguns investidores individuais votassem proporcionalmente a suas ações. As gestoras já deram a alguns investidores institucionais a capacidade de escolher deveriam votar.
Mas muitos investidores mostraram que estão felizes em deixar as gestoras de recursos se manifestarem por eles.
“É uma resposta baseada em dados para a pergunta que alguns levantaram sobre ‘O que os investidores realmente querem?’ e ‘É apropriado que o gestor de ativos decida o voto por suas ações?’ ”, disse John Galloway, chefe global de administração de investimentos da Vanguard, que lidera o programa piloto de voto por procuração.
Os dados mostram que, para muitos investidores, “isso parece totalmente apropriado porque eles estão do mesmo lado dos acionistas”.
A política da Vanguard para ações com direito a voto é clara e apoia medidas que criam valor para os acionistas, disse Galloway. É “gratificante ver que essa política é algo que ressoa com os investidores”.
O programa piloto da Vanguard, lançado no início de 2023 e expandido este ano, permitiu que investidores em cinco fundos participassem da votação por procuração em propostas das empresas. Os investidores nos fundos com mais de US$ 100 bilhões em ativos combinados poderiam selecionar opções como abster-se; votar com foco em ESG; votar junto com o conselho da empresa; ou permitir que a Vanguard exercesse o voto referente a suas ações. A participação no piloto era voluntária.
Quase um quarto dos 40 mil investidores de varejo no programa votaram por apoiar as propostas ligadas a ESG, de acordo com os dados, enquanto 30% optaram por seguir as recomendações dos conselhos da empresa. Mas o maior número de investidores escolheu votar de acordo com as recomendações da Vanguard, da mesma forma que a gestora fazia antes desse programa.
“O fato de os investidores de varejo terem optado por permitir que a Vanguard votasse por suas próprias ações é bastante significativo… mostra que eles valorizam as práticas de tomada de decisão que seus gestores institucionais adotam em relação a essas questões”, disse Matteo Tonello, diretor administrativo de pesquisa de ESG no The Conference Board, um “think-tank” dos EUA.
As iniciativas de votação por procuração individual foram em grande parte uma resposta à forte politização do ativismo ESG nos EUA, à medida que os gestores de recursos foram criticados e os políticos questionaram a capacidade dessas empresas de votarem de uma forma coerente com os interesses dos acionistas subjacentes.
“Da próxima vez que os republicanos reclamarem de democracias corporativas não representativas, os gestores de recursos vão se virar e dizer para olhar os dados”, disse Shiva Rajgopal, professora da Columbia Business School.
A adoção do programa também tem sido lenta, com apenas 2% dos 2 milhões de investidores individuais convidados a participarem. “Isso coloca em perspectiva que talvez menos pessoas estejam realmente inteiradas sobre os detalhes da votação por procuração do que o esperado”, disse Ali Saribas, sócio e especialista em governança corporativa da consultoria SquareWell Partners. Ele acrescentou que a Vanguard manteve um perfil mais baixo em questões de ESG do que a BlackRock e a disposição dos investidores em permanecer com a Vanguard “sugere que sua abordagem de administração é amplamente incontroversa”.
Fonte: Valor Econômico

