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O AC Camargo Cancer Center reviu sua estratégia de expansão e agora está priorizando parcerias com outros hospitais para atendimento de paciente oncológico. A decisão de não abrir novas unidades é baseada na visão de que o mercado de oncologia, em especial de São Paulo, já atingiu um tamanho limite por conta da expansão de vários grupos de saúde nessa área. Além disso, os tratamentos e medicamentos voltados para combater a doença vêm passando por uma rápida inovação, reduzindo o tempo de internação.
Em 2004, os pacientes do AC Camargo ficavam internados em média por 12 dias. Dez anos depois, esse prazo caiu para seis dias e agora, em 2024, está em 4,5 dias. Considerando a UTI, são 3,5 dias.
“Os pacientes estão ficando menos tempo no hospital. Não precisamos aumentar a nossa estrutura. Estamos passando por uma transformação tecnológica, temos tratamentos como terapia alvo, imunoterapia que são mais eficazes”, disse o médico Victor Piana, presidente do AC Camargo Cancer Center, instituição de saúde sem fins lucrativos, referência no tratamento da doença no país. “Nesse cenário, faz mais sentido a gente replicar nosso conhecimento para outros hospitais do país, atuar fora dos nossos muros”, afirmou.
O AC Camargo já fechou parcerias, por exemplo, com os hospitais Sabará, Santa Joana, COE São José e Sepaco, em São Paulo, e Santa Rita, no Espírito Santo. O negócio de parcerias começou há cerca de dois anos e representa 5% da receita, mas a expectativa é que suba para 15% até 2030. A AC Camargo deve encerrar o ano com faturamento de cerca de R$ 1,9 bilhão e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização de R$ 214 milhões – em ambos os indicadores, os resultados representam alta na casa de 8,5%.
O mercado de oncologia movimenta cerca de R$ 60 bilhões, segundo dados da RGS Partners, escritório de fusões e aquisições. De 2021 para cá, já foram anunciados investimentos de mais de R$ 5 bilhões em ampliação e novos projetos destinados a tratamento de câncer. O maior deles é do Hospital Albert Einstein que está investindo R$ 1,2 bilhão (sendo R$ 800 milhões vindos da construtora e R$ 300 milhões de recursos do Einstein) num complexo de oncologia e hematologia, em São Paulo, com 160 leitos, 120 clínicas cirúrgicas, 84 consultórios e 36 salas de quimioterapia, cujas obras estão previstas para terminar no próximo ano. A Oncoclínicas, que já tem seis hospitais especializados em câncer, planeja a construção de mais três nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia. Há ainda a Croma, rede especializada em tratamento para câncer fruto de uma joint venture entre Fleury, Bradesco e BP-Beneficência Portuguesa, que prevê a inauguração de quatro unidades ambulatoriais em 2025.
Segundo Henrique Polo, sócio da RGS Partners, o mercado de oncologia continuará em processo de consolidação na área ambulatorial. Há cerca de 270 clínicas para tratamento de câncer, sendo que 100 delas têm porte relevante, no país. Ele pondera que não devem surgir outros grandes grupos focados em oncologia tendo em vista que já há grandes consolidadores.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que são esperados 704 mil novos casos de câncer no Brasil, por ano, no triênio 2023-2025, sendo que cerca 70% desse volume deve ocorrer nas regiões Sul e Sudeste. O presidente do AC Camargo destaca que muitos tratamentos ocorrem em ambiente ambulatorial e, com o avanço da inovação, os casos tendem a demandar menos procedimentos cirúrgicos e internações.
O AC Camargo atende 3,4 mil pacientes da rede pública de saúde do município de São Paulo, por ano. No entanto, o repasse SUS paga apenas 4% das despesas médicas do hospital que se sustenta com receita de planos de saúde e doações. Em 2018, a conta desse atendimento era deficitária em R$ 130 milhões e, neste ano, fechará negativa em R$ 25 milhões. Essa queda no prejuízo é devido a uma revisão no contrato com a prefeitura. Até então, todos os pacientes oncológicos já tratados no AC Camargo podiam ser atendidos para outras demandas médicas mesmo que essas não tivessem relação com o câncer.
Neste mês, o AC Camargo entrou com pedido no Ministério da Saúde para integrar o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), iniciativa do governo federal formada por seis hospitais filantrópicos que revertem sua isenção fiscal a projetos de saúde para a rede pública. Atualmente, esse é grupo é composto pelos hospitais Albert Einstein, Alemão Oswaldo Cruz, BP- Beneficência Portuguesa, HCor, Moinhos de Vento e Sírio-Libanês.
Em geral, são ações de capacitação, gestão e pesquisa, cujos projetos são dimensionados com base no valor da isenção tributária. No triênio 2024-2026, o valor da renúncia fiscal desses hospitais é de cerca de R$ 3 bilhões que é revertida nesses projetos. Num desses projetos, por exemplo, o Einstein está capacitando a Anvisa na incorporação de novas tecnologias.
A outra forma de isenção tributária é o hospital atender 60% de pacientes da rede pública, o que provoca, em boa parte dos casos, uma crise financeira porque os repasses do SUS não cobrem as despesas. Muitos hospitais filantrópicos pedem para ingressar no grupo do Proadi, mas as demandas sempre foram negadas. A partir deste ano o programa pretende incluir novos hospitais, há cerca de oito instituições tentando ingressar.
Segundo Piana, mesmo que seu pedido para integrar o Proadi seja aprovado, o AC Camargo continuará atendendo os pacientes da rede pública municipal de São Paulo. Neste ano, foram atendidos 277 novos pacientes com câncer e em 2025, a expectativa é que sejam 288. O AC Camargo tem uma imunidade tributária de R$ 70 milhões, por ano.
Fonte: Valor Econômico