Deborah Wright fala sobre as regras que aplica hoje para ter equilíbrio no mundo corporativo
Por Fernanda Gonçalves — De São Paulo
12/12/2022 05h01 Atualizado há 7 horas
Uma crise de burnout aos 53 anos foi o catalisador para que Deborah Wright interrompesse a carreira executiva e passasse a ocupar posições como conselheira. “O cérebro da gente entra em looping causado por excesso de estresse. Você sempre está exigindo mais, entregando mais, se dedicando mais. Tem uma hora que o corpo fala: chega! Aqui vai o cartão vermelho!”, contou no episódio que encerra a temporada deste ano do podcast CBN Professional, realizado pelo Valor em parceria com a rádio “CBN”.
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Wright é filha de ingleses, o pai era químico industrial, e a mãe, secretária executiva de presidentes de multinacionais. Formada em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), entrou como trainee na Kibon, onde depois seria a primeira mulher a assumir uma posição de diretoria na história da empresa.
Ela chegou ao cargo de CEO pela primeira vez em 1995 e, depois, foi presidente de outras companhias, como Kibon, Parmalat e Tintas Coral. A ex-executiva assumiu um cargo de gerência na então Gessy Lever (atual Unilever) quando estava grávida de oito meses. “Eu brinco que tive uma década perdida porque dos 30 aos 40 anos eu virei sedentária. Era CEO e mãe, então eu estava trabalhando ou cuidando da minha filha pequena. Conciliar esses papéis não é trivial”, observa.
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Deborah Wright trocou a vida de CEO pela de conselheira, depois de um esgotamento profissional — Foto: Divulgação
Wright acredita que tamanha dedicação ao trabalho surgiu por conta da necessidade de se impor em um ambiente tradicionalmente masculino. “Eu olhava para frente e não tinha outros exemplos. As mulheres estavam muito atrás, quando estavam. E não bastava ser igual. Tinha que ser muito melhor, se não, eles promoviam um homem. Então, eu me tornei objetiva, assertiva. O meu masculino foi altamente desenvolvido por conta de treino e de onde eu vivi”.
São detalhes de sua trajetória como esses que Wright conta norecém-lançado livro “Senhora de si” (editora Labrador), escrito com o objetivo de deixar um legado e inspirar jovens profissionais. “Primeiramente, eu falo com as mulheres, porque na minha geração eu fui pioneira. Me coube o papel de ser a primeira mulher a fazer várias incursões e quebrar os telhados de vidro do mundo corporativo”, explica. Ela diz que erros também fizeram parte de sua caminhada e acredita ser importante falar sobre isso: “no mundo corporativo você tem que sempre estar se posicionando como vencedora. E eu tinha também a obrigação de mostrar a uma geração mais jovem que nada vem de graça. Nem sempre as coisas funcionam do jeito que a gente imagina”.
“Hoje se sabe que é importante ter um equilíbrio entre os dois lados, e que um olhar plural e diverso é muito mais rico. Na minha época isso não existia”
Para ela, uma das primeiras mulheres a ocupar cargos de liderança em multinacionais, a diversidade é um dos principais tópicos que deve ser trabalhado nas corporações. “Hoje se sabe que é importante ter um equilíbrio entre os dois lados, e que um olhar plural e diverso é muito mais rico. Na minha época isso não existia. Ainda bem que a gente está evoluindo, crescendo e aprendendo”, comemora. Além disso, ela destaca a importância do cuidado com a saúde mental dos funcionários. “Os crescimentos das empresas passam pelas pessoas. Cadê a sustentabilidade se as pessoas estão doentes?”.
Em relação aos aprendizados, Wright ressalta a capacidade de negociar. “Homens negociam muito bem porque eles são criados para serem os provedores, mas as mulheres do mercado financeiro são as melhores negociadoras que existem. A gente tem que aprender com elas, e aprender cedo”, alerta a ex-CEO. Ela credita boa parte de seus acertos profissionais à intuição. “Eu acertei algumas coisas intuitivamente. Você tem que fazer uma análise racional e depois ouvir o coração.”
Após deixar o cargo de CEO, Wright voltou a fazer atividades físicas, procurou terapia e passou a se dedicar ao trabalho em conselhos de empresas, como Eurofarma e lojas Renner. Atualmente é conselheira do Santander -onde está há cinco anos – e membro da comissão de estratégica no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Hoje, sou dona da minha agenda e estou me dedicando a coisas que fazem sentido para mim. São as causas da diversidade, ambiental, do social e da governança que me movem.”
Ela conta que os primeiros dois anos após deixar a vida de CEO foram aflitivos. “Sou muito agitada. Olhava para a agenda e, de repente, tinha espaços livres. No começo estranhei”, revela a profissional, que confessa ter dificuldade para desacelerar. “Agora acho que estou em um momento adequado. Tenho uma quantidade boa de atividades que me estimulam e me movem. Eu sou obrigada a me preparar – portanto, mantenho a cabeça ativa-, e também tenho tempo para mim”. O episódio está no site do CBN Professional e nas plataformas Spotify e Apple Podcasts.
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Fonte: Valor Econômico