O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, vê um possível caminho para uma eventual queda das expectativas de inflação de prazos mais longos para as metas até meados deste ano.
Se de fato ocorrer, será muito importante: a ancoragem plena das expectativas de inflação para prazos mais longos, atualmente em 3,5%, na meta oficial de inflação, de 3%, é um dos requisitos definidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC para relaxar a sua sinalização de manter a taxa Selic contracionista.
O outro requisito é que a inflação, de fato, caminhe para o centro da meta e inflação. Hoje os modelos de projeção do Copom não mostram isso. Eles projetam inflação de 3,5% em 2024 e de 3,2% em 2025.
Galípolo disse que a evolução da uma inflação corrente mais benigna pode contaminar positivamente as projeções de inflação dos analistas econômicos para 2025.
Por enquanto, os efeitos dos dados recentes mais positivos têm ajudado a puxar para baixo as previsões dos economistas privados para a inflação do ano de 2024. Neste ano, elas baixaram de 3,9% para 3,82%. As expectativas mais longas permanecem estacionadas (para 2025, houve até uma pequena alta na semana passada, de 3,5% para 3,51%).
Galípolo diz que, a partir do segundo trimestre, os economistas vão começar a refletir mais intensamente sobre as projeções de inflação de 2025, recalibrando os modelos com base nos dados divulgados mais recentemente.
De fato, historicamente, no segundo trimestre os analistas econômicos costumam se dedicar com mais afinco a fazer as projeções de inflação para o ano seguinte. A partir de maio, o BC estará 100% focado em colocar a inflação na meta nesse período.
“Mais perto do meio do ano, e ao longo desse final do primeiro trimestre em diante, é mais comum que se vá refazendo as estimativas para horizontes um pouco mais longos, colhendo os dados que estão chegando mais quentes”, disse, em um evento virtual da Bradesco Asset Management.
Não é a primeira vez que Galípolo fala do papel que a queda da inflação corrente pode ter nas expectativas de inflação. Em fins do ano passado, ele tocou no assunto, e segmentos do mercado entenderam erroneamente como uma indicação “dovish”, ou inclinada a juros menores.
O diretor do BC, na ocasião, estava se referindo a uma correlação que costuma ocorrer entre inflação corrente e expectativas. A sinalização de política monetária de longo prazo nunca mudou.
Fonte: Valor Econômico