Negócios acelerados no mercado de medicamentos biológicos

Considerados medicamentos que apresentam bons resultados em tratamentos de enfermidades complexas, como o câncer e doenças autoimunes, os remédios biológicos e biossimilares conquistam espaço crescente no Brasil. No ano passado, apenas as vendas de biossimilares no mercado privado totalizaram R$ 702 milhões no país, alta de 9,24% em relação a 2021. Para este ano, a projeção da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos) é de avanço superior a 10% no faturamento, em relação a 2022.

Indústria deve ganhar fôlego com parcerias para o desenvolvimento produtivo

A mudança de governo e a intenção de criar políticas industriais para fortalecer alguns setores, como o de saúde, poderão dar um novo fôlego para as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que têm se tornado uma ferramenta de desenvolvimento da indústria nacional de medicamentos e fortalecimento de laboratórios, movimento intensificado com os desdobramentos da pandemia.

Hora de reorganização da saúde

No caso da saúde pública, a emenda da transição conseguiu recuperar R$ 22 bilhões para a área. Assim, o orçamento total para 2023 do Ministério da Saúde é de R$ 189,3 bilhões, ante R$ 166,4 bilhões no ano passado. A maior parte dos recursos vai para ações e serviços em saúde: R$ 170,4 bilhões. Este valor, em 2022, foi de R$ 153,2 bilhões.

Negócios em desaceleração no setor de saúde

Na liderança das negociações, operadoras de planos de saúde como Hapvida e NotreDame Intermédica se uniram. A Rede D’Or ficou com 70 hospitais, além de adquirir a SulAmérica. O Fleury comprou o Hermes Pardini e a Dasa, a Oncoclínicas, bem como Kora Saúde, Mater Dei, Qualicorp e Odontoprev ampliaram suas operações. Mas o cenário macroeconômico mudou de meados de 2022 para cá, com alta da inflação e taxa Selic em 13,75%, elevando o custo de capital para novas transações. Além disso, a sinistralidade das operadoras de saúde saiu de 77,74% em 2020 para 89,21% ao fim de 2022. O resultado é que as empresas do setor estão entre as que mais perderam valor de mercado nos últimos 24 meses encerrados em 12 de junho de 2023. Liderando a lista estão Kora Saúde, Dasa, Qualicorp e Hapvida, que caíram 86%, 81%, 81% e 72%, respectivamente, segundo cálculo da Capital IQ.

Telemedicina avança no país

Segundo Renato Camargo, vice-presidente de clientes da Pague Menos & Extrafarma, a empresa pratica teleinterconsulta em suas farmácias com plataforma da Conecta e, em breve, fará isso com outros parceiros. As duas redes somam 1.650 farmácias no país, sendo a maioria no Nordeste, região carente de instituições públicas e privadas de saúde. Camargo diz que a teleinterconsulta amplia o acesso à saúde, especialmente para a chamada classe média expandida B2, C e D, lembrando que há cidades de 20 mil habitantes em que, às vezes, há apenas um único posto de saúde.

“A farmácia do futuro é a nova velha farmácia, recuperando o protagonismo que as farmácias tinham no passado”, diz Camargo. Por meio de um farmacêutico e um médico a distância, é possível dar um primeiro atendimento em casos de baixa complexidade. Como há testes rápidos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – Beta HCG, H Pylori, aferição de pressão e glicemia –, o médico pode solicitar o exame, o farmacêutico aplica o teste e envia o resultado para o médico, que avalia e manda a prescrição para o celular do paciente, para ele fazer a compra.

Remédios em profusão na indústria farmacêutica

Parte dos medicamentos comprados pelo SUS, o maior instrumento de política pública de saúde, é hoje atendida pelas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) firmadas nos últimos cinco anos. E o SUS atende mais de 150 milhões de brasileiros – cerca de 75% da população depende da rede pública de saúde. Um mercado gigante e atraente para qualquer laboratório farmacêutico global.

“Para pensarmos seriamente em produção local em larga escala de IFAs, temos que ter condições competitivas como fornecedores regionais de peso, pelo menos nas Américas. O que significará rever questões tributárias, incentivos a pesquisas, como as clínicas e médicas, onde o Brasil pode facilmente ser muito competitivo. Ou seja, tem que ser uma política de Estado, e não de um governo apenas”, diz Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticas (Sindusfarma).
A Eurofarma, outra líder de medicamentos do país, aposta na inovação (incremental ou radical) para manter sua média de crescimento de 20% ao ano em mais de uma década. Maria del Pilar Muñoz, vice-presidente da Eurofarma, adianta que há mais de 270 projetos na empresa, que lança em média 40 novos medicamentos por ano no Brasil. O investimento em pesquisa e desenvolvimento em 2022 somou R$ 591 milhões, o equivalente a 7,4% da receita líquida, e a projeção para 2023 é superior a R$ 700 milhões. Um dos focos das inversões da Eurofarma é a nova unidade fabril de Montes Claros (MG) para reforçar a diversificação da oferta de remédios da companhia, que abrange desde as áreas de medicamentos sob prescrição médica, de uso restrito hospitalar, a genéricos e venda livre em balcão. Recentemente a sua planta de Itapevi foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, equivalente à Anvisa, para exportações para aquele país.